Mais uma
excelente intervenção do veterinário
André Cláudio do
Hospital Veterinário do Baixo Alentejo – Animália, publicada na última edição do jornal semanal bejense
Correio Alentejo:
Nesta altura do ano, os cães de caça vivem a altura mais feliz do ano, mas os acidentes acontecem e devemos estar preparados para eles:
Traumatismos Graves1. Fracturas e contusões: são sempre provocadas por impactos muito violentos sobre a estrutura músculo-esquelética (ex. quedas altas), ficando o cão com um coxeio agudo, sem apoiar o membro, inchaço, crepitação no local da lesão e dor evidente. Embora não sejam urgências médicas (excepto se forem fracturas com osso exposto, pois o risco de infecção é grande), convém sempre imobilizar a fractura ou contusão desde a articulação sã a montante e jusante da lesão, cobrindo primeiro a lesão com compressas ou ligaduras, aplicando depois um suporte rígido (ex. tala, pedaço madeira). Transporte com cuidado até ao médico veterinário mais próximo.
2. Ferida com hemorragia profusa: Em todos os casos, é necessário comprimir a área hemorrágica com compressas ou panos limpos. Numa hemorragia arterial (saída de sangue vermelho vivo em golfadas) é preciso comprimir a artéria com a ajuda de um dedo ou realizar um garrote com ligadura acima do ponto de hemorragia, não mais de uma hora, pois a falta de circulação pode gangrenar o membro. O cão deve ser levado com urgência ao médico veterinário.
3. Traumatismo da coluna vertebral: a lesão pode ocorrer a nível da coluna cervical, torácica, lombar ou sacrococcígea, originado diferentes problemas neurológicos de acordo com o local da lesão, criando paralisias parciais ou totais associadas a uma dor intensa. O cão deve ser levado com urgência ao médico veterinário, mas antes convém que o cão ferido seja açaimado e transportado de forma que a cabeça, tronco e bacia estejam alinhados e imóveis.
4. Tiros nos cães: É um dos acidentes mais frequentes nos cães de caça. Como se deduz, as consequências do tiro acidental no cão dependem da zona do corpo atingida, sendo a cabeça e terço anterior dos cães as mais atingidas, originando lesões muito variadas.O que deve fazer nestes casos passa por comprimir as feridas que sangram e transportar o cão ferido o mais rápido possível ao veterinário, a fim de ser avaliado e tratado adequadamente
Insolação ou Golpe de CalorTrata-se de um aumento elevado da temperatura corporal acima dos 40,5°C, que se não for tratada rapidamente pode ser fatal. É um acidente que ocorre normalmente após períodos de exercício intenso num dia de caça quente ou quando os cães são expostos num ambiente fechado a elevadas temperaturas (ex. os atrelados deixados ao sol, excesso de cães nos atrelados, cães dentro de automóveis).
Os sintomas mais frequentes do golpe de calor são: respiração rápida e difícil, salivação excessiva, mucosas gengivais de cor vermelha intensa, prostração, convulsões e morte. Daí, é fundamental agir rapidamente de modo a baixar a temperatura do cão recorrendo a banhos de água fria, toalhas molhadas com gelo sobre o corpo, nomeadamente sobre as virilhas e abdómen, e removendo o cão do local quente.
A prevenção destas situações passa por:
• Realizar as viagens durante os períodos mais frescos;
• Evitar sobrelotação de cães nos atrelados;
• Colocação atrelados em locais arejados e com sombra;
• Realizar pequenas pausas durante a jornada de caça, para fornecer água fresca e se possível suplementada com açucares e sais e refrescar o corpo com água.
HipoglicémiaMuitos cães, nos primeiros dias de caça, devido ao esforço extenuante e ao calor que ainda se faz sentir nesta altura, sofrem deste problema que se deve a uma diminuição aguda do nível de açúcar no sangue. Os sintomas são fraqueza repentina, colapso, cegueira e coma, podendo sobrevir a morte.
Uma forma de prevenir passa por dar uma boa refeição na noite anterior à caça e em levar sempre consigo biscoitos ou ração e água fresca, que oferecerá ao seu companheiro canino várias vezes durante a jornada. Faça também pausas breves a cada hora de caminhada.
EnvenenamentosÉ um acidente muito frequente nos cães de caça e pode resultar quer de descuido quer de maldade.
O envenenamento pode ser provocado por vários agentes, acontecendo com mais frequência as intoxicações por estricnina, veneno de ratos do tipo anticoagulante, herbicidas e veneno dos caracóis.
Nos envenenamentos por pesticidas, estricnina e veneno dos caracóis, os sintomas mais frequentes são salivação exagerada, tremores generalizados, convulsões, micções e defecações involuntárias, respiração ofegante, rigidez dos membros, colapso e morte rápida. A intoxicação por veneno de ratos do tipo anticoagulante dá-se lentamente um a vários dias após a ingestão do veneno, podendo originar hemorragias generalizadas (sangue nas gengivas, urina, fezes, globo ocular, pele), respiração ofegante e abdómen dilatado.
Caso suspeite de envenenamento, deve averiguar ou descrever o veneno utilizado, tentando recolher amostras biológicas (vómitos, urina e fezes) e material suspeito (invólucros, iscos), pois serão informações muito valiosas para o veterinário e para futuras acções judiciais.
Caso suspeite de envenenamento, deve imediatamente (até quatro horas após ingestão do veneno) estimular o vómito, forçando a beber água misturada em partes iguais com água oxigenada ou sal de cozinha, excepto nos casos o onde se suspeite da ingestão de tóxicos cáusticos ou se encontrar em colapso ou convulsões. Nunca usar azeite ou leite, pois não provocam directamente o vómito e podem ainda aumentar a absorção gastrointestinal do veneno. Em caso de o veneno contactar com a pele, esta deve ser lavada com água fria e sabão. Em qualquer caso, leve sempre o cão ao veterinário mais próximo.
Investidas por caça grossaOs cães matilheiros de caça grossa são o maior grupo de risco. Este tipo de investidas pode causar diversas lesões, sendo as mais graves as lacerações abdominais com evisceração e as perfurações torácicas. Ambas as situações são urgências médicas, devendo o cão ferido ser transportado com segurança o mais rapidamente possível ao centro veterinário.
NUNCA tente reintroduzir as vísceras dentro do abdómen, pois irá agravar a infecção abdominal, levando à morte do cão. Pode tentar lavar com água limpa tépida diluída em betadine® dermatológico a sujidade das vísceras e envolver a laceração com um lençol ou toalha limpa. Nas perfurações do tórax deve-se comprimir as lacerações com hemorragias e transportar o cão ao veterinário, a fim de se avaliar as lesões internas torácicas. ATENÇÃO, pequenas lesões superficiais no tórax e abdómen podem estar associadas a lesões internas gravíssimas.
Seja cauteloso com os cães na caça, pois os acidentes acontecem, e boas caçadas na companhia dos nossos maiores amigos!