Férias

Texto publicado em simultâneo aqui e na Taberna dos Inconformados

Gostaria de ter férias, mas não. Este post não é para anunciar que vou de férias. Já estive por uns dias com o meu coro na bela ilha da Madeira, pode se considerar as minhas férias deste ano, não há verbas para mais.

Falo hoje sobre um assunto que considero um dos males de Portugal, um autêntico travão à economia do país. Esses mesmos férias. Admirados? Não me entendam mal, as férias são um direito adquirido da sociedade moderna, e ainda bem. As férias e o a eles ligado turismo são um factor importante na economia em muitos países, e entre eles, claro, Portugal. Só que neste período o nosso país parece que está parado. Entre fins de Julho e inícios de Setembro nada se faz, tudo para. Tirando as feiras e rumarias, não há praticamente eventos culturais. As repartições públicas trabalham a meio gás, ou estão mesmo parados. Para tratar de certos assuntos ouvem-se respostas como: Pois senhor, fulano tal está de férias, e isso é só com ele. Agora só em Setembro. Ou então: Fulana não sei quantas vai para a semana de férias, somos só nós as duas, deve levar no mínimo três semanas....

Também há sítios e profissões que ciclicamente têm que fazer férias, as escolas e professores por exemplo. Pois, mas aí há situações que venho admirando desde que estou em Portugal. Passei o meu tempo de escola naturalmente na Alemanha, mudei seis vezes de escola devido à profissão do meu pai, só durante esses nove anos de escolaridade obrigatória! E em todas foi o mesmo. Aulas desde do início até ao último dia do ano lectivo! Nada de baldas, se faltar um professor, havia logo outro a substituir. Embora já tenha 46 anos, lembro-me muito bem desse tempo, lembro-me das escolas todas. E cá? Bem, no início do ano lectivo vai-se começando, lentamente, depois falta esse ou aquele professor, no fim do ano, duas semanas antes já não se passa quase nada, arrasta-se o tempo até as férias. Falo do que sei, da escola da minha filha, e de outras escolas sobre os quais os meus amigos me falam. Para piorar, somando os dias, o tempo das férias é muito superior ao da Alemanha, por exemplo. Assim não vamos lá!

Considero-me português, como sabem. Falo e penso em português. Cada país tem as suas vantagens e desvantagens. Tento combinar os lados positivos dessas duas realidades que conheço, e o que escrevo não é para falar mal de Portugal, país que me acolheu, e bem! Mas reservo-me o direito de criticar o que está mal e de tentar ajudar a mudar algumas mentalidades tão enraizadas no nosso país. Uma realidade que conheço é a da Alemanha no que toca a férias, ou melhor explicado, o comportamento e pensamento dos alemães sobre as férias. Quem pode, claro, vai para fora passar férias. Mas não é tão obrigatório como cá! Principalmente em Lisboa, quem não vai de férias à praia parece que não tem estatuto social. Quem não se apresente em Setembro todo bronzeado não é gente digna. Gastam por vezes o que têm e não têm, chegando mesmo pedir dinheiro ao banco, só para não ficarem atrás! É um “must”. Há famílias que já estão tão endividadas que quase não têm dinheiro para comer, mas as férias são sagradas. Chamam a isso recarregar baterias. E depois chegam das férias ainda mais endividados e estressados, porque férias no Algarve muitas vezes é stress. Banhos de multidão, três pessoas por metro quadrado na praia, filas frente aos restaurantes, isso definitivamente não é para mim. Há alguns anos essas cenas todas já foram “obrigatórias” para mim também, mas desvinculei-me disso tudo....

Qualquer das maneiras, desejo a quem estiver nesses dias de descanso, ou ainda está para ir, umas boas férias....