domingo, 4 de fevereiro de 2007

Pela Vida (último)

Texto publicado em simultâneo aqui e no blog Pela Vida.

Esta é a minha última intervenção sobre este tema. No fim-de-semana passado não escrevi sobre este assunto por ter tido problemas informáticos, entretanto já resolvidos.

Nas últimas semanas, e principalmente naquela que agora passou, se tem escrito e falado bastante sobre este tema, o da despenalização, ou não, do aborto. Até já foi criado uma sigla, não sei bem por quem! Chamam-na IVG, certamente para não terem de pronunciar tantas vezes a frase já gasta, a de interrupção voluntária da gravidez! Dizendo essa sigla, até parece que dão um ar mais “chique” à coisa, do tipo MIT, ou então, do IVA, esse, pois, mais doloroso.

Compro regularmente dois semanários editados em Beja, o Correio Alentejo e o Diário (sem o ser...) do Alentejo. Fiquei estupefacto em verificar que nas duas últimas edições dos dois jornais não há uma única notícia sobre uma campanha do Não ao referendo. Ou não há campanhas em Beja e arredores em favor do Não, ou então, não sei! O Sim está espalhado por todas as páginas, até já parece um “must”. Mas eu, caros leitores, digo decididamente que NÃO! Já expliquei as minhas razões nos textos com o tema “Pela Vida”, não vale a pena de as repetir.

Os partidos, pois, esses! Há panfletos coloridos com a palavra sim a voar pela cidade, até fizeram colagens em caixas da EDP, e não só! Cá para mim, pensava que essas colagens seriam proibidas, enfim! É um voltar, pelo menos nesta questão, ao 3º mundo....

Mas os defensores do Sim estão com um grande dilema. O PS já fez saber que se o Sim ganhar é uma vitória deles. Logo, há muitos defensores desse lado que não são desse partido, em quê é que eles vão ficar? Vão festejar gritando PS, PS?

Penso que a pergunta do próximo Domingo está mal feita. Em vez de despenalização do aborto deveria dizer desresponsabilização do governo, não só desse, mas de todos os que antecederam o actual! Vejamos. Tenho a certeza que muitas grávidas, talvez até a maioria, só aborta porque não têm condições económicas para criar uma criança. Se os governos já tivessem criado leis que apoiam as mães dos recém-nascidos, toda essa discussão actual talvez não tivesse lugar. Lembro-me bem do tempo em que o aborto foi discutido na Alemanha. Foi o famoso parágrafo 218 que estava em questão. A lei foi alterada, o aborto ficou mais liberal. Ao mesmo tempo foram criados muito maiores incentivos para as mães, para além de maior apoio financeiro (Kindergeld), as mães podem ficar em casa até 3 (!) anos após o nascimento da criança e não só os vergonhosos 4 meses como acontece em Portugal. Se o Sim ganhar, será que esse governo vai dar mais apoios às mães? Creio que não. Mas vamos ter fé, esperamos que o Não ganhe!

Mas a maior questão que está nesse referendo é mesmo se vai ser despenalizado o aborto ou se vai ser liberalizado. É a questão crucial principalmente para os indecisos. Tenho falado com alguns que confirmam essa minha opinião. É que, no fim das contas, se o aborto for despenalizado é a mesma coisa que se ele for liberalizado. Mais uma razão para votar Não, para dar uma hipótese a esse grãozinho de vida que está a crescer no útero da futura mãe!

Bem, com tantos blogues que há na cidade de Beja, aparentemente sou mesmo o único que tem um blog que defende o Não. Passeando pela cidade, falando com amigos, fica-se com a ideia que os defensores do Não dizem essa palavra em voz muito baixinha, até parece que têm medo de o dizer em voz alta! Mas eu não tenho medo, digo com toda a convicção: NÃO ao aborto!!!

9 Comments:

At 05 fevereiro, 2007 11:35, Anonymous Anónimo said...

Caro Zig, eu tinha prometido a mim mesmo que não discutiria este assunto contigo.
Não vou tentar contra-argumentar, pois o maniqueismo do teu raciocínio simplista deita por terra qualquer troca racional de argumentos.
Mas, já agora, queria comentar algumas das tuas afirmações. Faço-o aqui, na tua casa, porque me recuso a comentar em sites de extrema-direita.

1. Quando dizes que o IVA é mais "doloroso" que a IVG estás a brincar, não estás?

2. Tem havido campanha do "não" cá em Beja? Se tem, porque não tens participado?
Além disso, os dois jornais que referes não são a RTP. Os critérios editoriais são o que são e só compra quem quer, concorde-se ou não. Não nos podemos imiscuir nesses critérios, porque há uma coisa que se chama "liberdade de imprensa". Quanto à RTP - serviço público pago por nós - não tenho notado razões de queixa por parte dos "nãos". Muito pelo contrário...

3. Se pensas que a colagem de papéis é proibida, faz queixa junto das autoridades competentes.

4. PS, PCP, BE e o pessoal mais arejado do PSD, pelo "sim". CDS e os teus colegas de blog "anti-aborto" do PNR pelo "não". Não queres que eu vá andar com quatro bandeiras no dia 11, pois não?

5. "Em vez de despenalização do aborto deveria dizer desresponsabilização do governo". Já está a aprender qualquer coisa com os populistas do PNR...
Se a base do problema fosse apenas o apoio às mães... é muito mais, caro Zig. Muito mais, e tu não compreendes.

6. O aborto encontra-se liberalizado, neste momento. O aborto ilegal faz-se de forma selvagem. A despenalização vai criar condições para que seja feito de forma controlada.

7. Não tenhas medo de dizer bem alto que és pelo "não". Deixa lá esses fantasmas, que ninguém te vai fazer mal por isso.
O 25 de Abril foi há quase 33 anos.
Antes é que era pior, porque se dissesses o que pensavas podias ir bater com os costados na cadeia.

 
At 05 fevereiro, 2007 15:53, Blogger Zig said...

chico:
Estás sempre à vontade de vir aqui comentar, sabes bem disso.

Sou uma pessoa simples, não gosto de complicar, daí talvez fique a sensação que eu leve esse assunto de ânimo leve, mas não. Agora, já escrevi aqui muitos textos, juntando todos é que ficas com a ideia certa.

1º Claro....
2º Não tenho participado em nenhuma campanha porque nem sei se há, não posso sequer votar e nem tempo tenho para essas coisas. Faço campanha aqui e no dia-a-dia. Quanto à RTP, a locutora do Prós e Contras está de que lado?
3º Não é proibido? Além disso, tenho mais que fazer....
4º E porque não (lol)
5º Isso pensas tu que não compreendo....
6º Mas nunca vai acabar totalmente, isso até os do Sim sabem.
7º Eu não tenho. Agora há quem tenha....

 
At 05 fevereiro, 2007 16:16, Anonymous Anónimo said...

1 - Ainda bem. Sabes que eu penso que podemos brincar com tudo, não há assuntos-tabu, mesmo quando o caso é serio, como agora.
2 - Não tenho dado por nada acerca de campanhas do "não" aqui em Beja. A Fátima Campos Ferreira disfarça mal a preferência pelo "não". A maior parte da sequência de notícias está manipulada. Basta prestar um pouco de atenção.
3 - Não sei se é. De qualquer forma, acho perfeitamente normal que se colem papéis de campanha, sejam do "sim" ou do "não".
4 - Porque o referendo não é partidário, meu caro. O que eu quis dizer foi que é natural que um partido que defende a despenalização se sinta vitorioso se o "sim" ganhar, seja o PS ou outro qualquer (PCP, BE ou PSD arejado). Mas, na minha opinião pessoal, se o "sim" ganhar, como espero, ninguém vai cantar vitória, pois não se trata disso. É apenas uma votação para mudar uma lei, e se essa lei for mudada para melhor, trata-se apenas de uma necessidade civilizacional que se alcançou. Não uma vitória. Se alguém cantar vitória, serão os comunistas, esses sim, que partidarizaram a questão.
5 - Aqui, a "porca torce o rabo"...
A minha opinião, já a dei no meu blogue. Não vale a pena repeti-la aqui.
6 - Claro que não vai acabar, homem! O que se quer é que seja feito em condições de higiene, segurança e dignidade para as mulheres. E que elas não sejam perseguidas como criminosas. É para controlar o aborto, para que seja feito por médicos e não por abortadeiras sem escrúpulos nem preparação clínica. As mulheres merecem ser tratadas como seres humanos e não como irresponsáveis e criminosas.
É isso que está na lei: a PENA DE PRISÃO. E é isso que a gente vai votar. O Sócrates já disse - e com toda a razão - que se os portugueses votarem maioritariamente "não", é porque querem continuar a penalização criminal das mulheres. É preciso respeitar a vontade dos eleitores, e se o "não" ganhar, fica tudo na mesma: CRIME, JULGAMENTOS E PRISÃO!
7 - Andam a meter-te macaquinhos na cabeça.
Em Portugal, sabes que há crimes de consciência?
Pois há...
São as mulheres que têm de recorrer ao aborto e não quem se exprime livremente pelo "não".
Pensa nisso.
Achas que tens, tu ou qualquer outra pessoa, direito de julgar uma questão de consciência íntima de uma mulher?
Eu cá não tenho.
E é por isso, porque respeito as mulheres e não as quero julgar por uma decisão dificil que elas têm de tomar, que voto SIM.

Pensa nisto, Zig. Tu, que és um tipo porreiro, decerto compreendes que as mulheres merecem!

 
At 05 fevereiro, 2007 18:14, Anonymous Anónimo said...

@ Chico.~
O Zig comete o pecado do Maniqueismo ao julgar que é tudo, ou branco ou negro.
Mas ele que é uma pessoa inteligente sabe que há um infinito de matizes cinzentos entre um e outro extremo.
O Sim não obriga, o sim não banaliza, o Sim apenas despenaliza, e traz para a luz do dia o que os do Não querem fingir que não existe.

 
At 05 fevereiro, 2007 19:16, Blogger Zig said...

chico:
Que me desculpes, mas não vou responder ponto por ponto.

Sei muito bem o que as mulheres merecem! Mais apoios, mais igualdades etc. e não facilitismos....

contraciclo:
Comentário estranhamente curto, o teu, desta vez (lol).

Deve ser por não ser dirigido a mim....

Claro que sei que as coisas não são assim tão fáceis, mas a resposta tem que ser fácil: ou sim, ou não, não há meio termo!

 
At 05 fevereiro, 2007 21:40, Blogger RCataluna said...

Não consigo compreender como é que partidos políticos podem tornar esta questão numa questão política, quando vai muito além disso...
Honra seja feita a Marques Mendes já que o PSD é, creio, o único partido que não tem posição oficial sobre a matéria, dando liberdade de escolha aos seus militantes...

 
At 05 fevereiro, 2007 23:57, Blogger Zig said...

Rcataluna:
Certo! É o único líder partidário com a opinião certa!

 
At 06 fevereiro, 2007 10:32, Blogger Unknown said...

Também não devia estar a comentar este post mas queria apenas fazer-te uma pergunta:

Se o Não ganhar vão ser tomadas medidas para ajudar as mulheres que se encontram nessas situações? Quais?

Será que são mesmo só as mulheres sem condições económicas que recorrem ao aborto? então como fazem para pagar os abortos ilegais?

 
At 06 fevereiro, 2007 12:02, Blogger Zig said...

trequita:
Lá estás tu, com uma pergunta que são duas, ou então, três, e quatro.....

Se o Não ganhar, e assim o espero, os políticos, o que têm a fazer, é mesmo dar mais condições às gravidas e às jovens mães. Mas já se sabe, Sócrates depois vai lavar as mãos no voto "expresso" do povo, ou então, depois vai aparecer o austero ministro das finanças a dizer que não há dinheiro.

Nunca disse que só são elas, mas é certamente uma grande maioria. No fundo, tudo gira a volta do dinheiro, sem ele, nada feito. Além disso, infelizmente sai sempre mais barato "desfazer a criança" do que criá-la. É horrível dizer isso, mas é verdade.

Já agora, alguém viu o Prós e Contras de ontem? Só vi aos bocados, não consegui tirar conclusões finais do programa.

 

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