domingo, 26 de novembro de 2006

Música Sacra

Normalmente quando falo sobre espectáculos que visito desdobro-me em elogios. O desta noite não foge à regra. Talvez eu tenha sorte nas escolhas que faço, ou então, gosto mesmo do que vejo. Tal como tinha dito ontem, fui até Castro Verde para assistir a uma actuação de música sacra, apresentado pelo Coro Gulbenkian. A viagem de 90 km valeu bem a pena! A Basílica desta vila alentejana foi o lugar ideal para se ouvir esse tipo de música, com as paredes revestidas de azulejos e com o tal bonito tecto, mas em mau estado. Estado esse que mereceu a atenção da ministra da cultura....

Voltando ao concerto. Considerado um dos melhores coros de Portugal e ao mesmo tempo, salvo erro, o único coro profissional do país, apresentou um espectáculo em duas partes. Claro que não se deslocou ao nosso Alentejo o elenco todo, mesmo assim contaram com 26 elementos, mais maestro, neste caso, Jorge Matta. Na primeira cantaram seis peças, a cappella (= sem instrumentos) em latim, designados como Motetos de Pero de Gamboa. Na segunda a música já foi mais mexida, com instrumentos, nada lembrando à música sacra. No programa assinalava Vilancicos de Santa Cruz de Coimbra, os Negros do Manuscrito 50. Bem, cantaram uma língua estranha, parecia espanhol misturado com português. Não estudei história de Portugal, claro. Por isso tentei saber que tipo de música era essa. Foi cantada pelos indignas da América do Sul enquanto à sua evangelização por parte dos jesuítas no século 17. Uma agradável surpresa!

Encontrei lá muita gente conhecida, também apreciadores de música coral. A Basílica estava bem composta, o público gostou. O coro estava muito bem afinado, quase obrigatoriamente, já que são profissionais. Mesmo assim é difícil cantar essas peças com um elevado grau de dificuldade. Não que o meu coro cante mal, mas com esse fiquei maravilhado!

6 Comments:

At 26 novembro, 2006 12:37, Anonymous Anónimo said...

O Português standard, tal como tu sabes muito bem - porque as Alemanhas são muitas e muitas são as variedades de linguas que se falam por lá,- é um mito criado pelos governantes, e um instrumento para a imposição do Estado.
No inicio da nacionalidade, o falar no espaço de Portugal de então era uma pulverização de falas com toda a influência aglutinadora que o colonizador Romano e mais tarde árabe tinham deixado. Desde o ínicio que houve uma tentativa de unificar o idioma, aproximando-o do latim, e mostrando e vincando bem a diferença em relação a Espanha mas a verdade é que durante séculos em portugal se falava bilingue: castelhano misturado com dialectos locais. Imensa poesia, e peças escritas dessa época retrata bem que falar Português era coisa só para os documentos oficiais e ocasiões solenes. Só muito mais tarde é que o Português se começou a estabilizar como idioma universal no território de Portugal. Restam contudo em alguns lados ainda e felizmente, uns dialectos saborosos desses tempos.
A Música é sim Zig. Coisa divina! Todo o tempo que se investe nela é pouco. Parabéns pelo teu bom gosto.

 
At 26 novembro, 2006 12:55, Blogger Zig said...

contraciclo:
Como disse, não estudei a história portuguesa, mas ela não me foge, pode ser que um dia a estude. Agora, a língua que se fala tinha que ser baseada em algumas regras, regras essas que só podem vir de livros, já que não havia há séculos atrás meios audiovisuais.

Agora, na Alemanha, o que há são muitos dialectos, pode se dizer, que quase todas as aldeias têm o seu. Mas, ao contrário que possas pensar, o alemão dito correcto está cada vez mais implantado, principalmente os jovens já não falam dialecto nenhum. É uma pena, são os tempos modernos.

Gostaria de investir muito mais tempo em música. Não só em visitar espectáculos, mas também na "produção" de música por mim mesmo. Gosto de tocar piano, por falta de tempo ainda não avancei muito. Também gostaria de frequentar aulas de canto, pois, o tempo, e o dinheiro....

 
At 26 novembro, 2006 12:59, Anonymous Anónimo said...

Gostei muito, mas as palmas incomodaram-me muito, era como um corte no seguimento.

 
At 26 novembro, 2006 17:08, Blogger Zig said...

Anónimo:
...nem tudo é perfeito...

 
At 27 novembro, 2006 01:08, Anonymous Anónimo said...

@ Zig
Pois aí é que está o erro fundamental e que tem a ver da forma como somos ensinados a pensar. Os idiomas não nasceram dos livros. Nasceram das falas e das falas, é que os estudiosos lhe descobriram as regras que os povos inconscientemente construiram.
É muito curioso, mas na verdade, foram os analfabetos que de tradição oral em tradição oral fizeram ao longo de milénios o que é hoje a panoplia de idiomas.
E mesmo nos tempos de hoje, em que os média tudo dominam, é a lingua falada que determina a evolução da mesma. Expressões que caem em desuso, novas palavras e formas de dizer que suplantam anteriores e impõem as suas construções donde se podem descobrir as regras.

 
At 27 novembro, 2006 01:14, Blogger Zig said...

contraciclo:
Certo! Mas não é isso que quis dizer. Digo que não há outro meio para transmitir de geração em geração a língua a não ser em livros, pelo menos foi assim na antiguidade.

 

Enviar um comentário

<< Home