sábado, 17 de junho de 2006

Iniciativa

Artigo publicado em simultâneo aqui e na Taberna dos Inconformados.

Como já tinha dito a cruzeiro, a fábrica da Opel na Azambuja está em risco de fechar.
Vou aqui tentar frisar mais a questão internacional deste caso, falar mais a nível global.

Reestruturação, pois. Esta simples palavra usada num gabinete qualquer na chefia desta marca automóvel vai mandar 1200 trabalhadores directos e muitos outros indirectos para o desemprego. É uma vergonha! As empresas multinacionais só pensam no lucro, não pensam no indivíduo que soa a camisola para este nome. Sim, porque nesta fábrica os trabalhadores estão motivados para fazer um bom trabalho. Tinham assinado um contrato de conciliação social com a casa mãe que vigora até 2009. E agora isto? Deve ter sido um choque para eles, sentem-se enganados.

Eu até sou a favor da assim chamada globalização. Mas há limites. Acompanhei de perto o fecho da fábrica da Samsung em Portugal. A razão foi que numa fábrica da marca na Alemanha conseguiram produzir um TV muito mais barato do que cá. Com a Grundig em Braga a mesma coisa. Pouco tempo antes até tinha feito uma visita guiada a essa fábrica, e na altura ninguém falava de um eventual encerramento, falavam apenas de uma reestruturação, mas nunca do fecho completo.

Normalmente o engano começa assim. Faz-se uma nova fábrica algures. Com linhas de produção modernas e com pouco pessoal. Nas antigas pouco ou nada se investe, assim tornam-se obsoletas. Mais tarde dá-se essa desculpa, dizem que a fábrica já não é rentável. Como o caso da Azambuja. Segundo diz um elemento da comissão dos trabalhadores, se a fábrica tivesse certo tipo de máquinas, o custo de fabricação por automóvel baixaria significativamente. Ora aí está. Pensam que a Opel não sabe disso? Sabem, mas não querem saber! Aproveitando ainda os mais baixos salários em outros países, nomeadamente do leste, até se lançam em grandes investimentos para construir novas fábricas, e mesmo assim compensa! Isto é inaceitável.

Mas nunca nos podemos esquecer que a Opel, ou melhor, a GM é americana, o centro da decisão está nos EUA, e não na Alemanha (Rüsselsheim) como alguns pensam. É natural que estejam em crise. Em minha opinião, eles têm uma política parecida com a Fiat. Produzem barato, a qualidade sofre, e o cliente não é parvo. Além de muitos modelos serem pouco atractivos visualmente, a política nos modelos desta marca não tem sido constante nos últimos anos. E isto reflecte-se nas vendas. A grande concorrente deles, pelo menos na Alemanha, é a Volkswagen. Lá o Golf ganha sempre em termos de vendas ao Astra. Porquê? Em meu ver pela política de sucessão destes modelos, constante na VW, inconstante na Opel. O Golf até é mais caro, mas também qualitativo muito melhor.

Se a fábrica fechar, proponho aqui uma iniciativa nos blogues! Fazer pensar os que querem adquirir um novo automóvel, para que pensem duas vezes, antes de comprar nesta marca. Claro que pode prejudicar os concessionários, mas com as margens de lucro com que eles operam, pouco vão notar. Ganham mais nas reparações dos automóveis do que na sua venda.

Por isso, quem adquirir um produto da Opel que pense nos trabalhadores da Azambuja!

7 Comments:

At 17 junho, 2006 18:25, Blogger Unknown said...

Excelente análise caro Zig, mas queria somente fazer um reparo. A OPEL da Azambuja vai ser deslocalizada para Saragoça, Espanha. Se fosse para um país de leste poderiam afirmar que o motivo seriam os salários mais baixos, mas... qual é o motivo de ir para Saragoça???

Estou inteiramente de acordo com o boicote que sugere para os automóveis da marca Opel.

Ainda diziam há pouco tempo "Opel - Deutsche Technologie"... Tretas...

Abraço!

 
At 17 junho, 2006 23:27, Blogger RCataluna said...

A GM é uma empresa que tem a fama, e o proveito, de não ser muito bem gerida. É pena que os trabalhadores paguem pela sucessiva incompetência de gestores que não sabem o que é uma mudança de óleo ou uma vela.
A Opel, em particular, tem, do meu ponto de vista, perdido em termos de qualidade para os seus mais directos rivais. Os americanos ainda não lidam muito bem com a grande qualidade alemã e a ascensão asiática.
O meu pai sempre teve opel, não sei porquê. Gosto cada vez menos daqueles carros. Agora com esta...

Abraço!

 
At 17 junho, 2006 23:36, Blogger Zig said...

o restaurador:

Já respondi na Taberna.

rcataluna:

São americanos, e pronto.

A marca em si não é má, mas tem aspectos que não se entende, tal como escrevi no texto.

O meu pai também já teve alguns Opel, o maior que tinha era um Opel Admiral com motor de 8 cilindros! Era cá um avião, gastava mais aos 10 km do que o meu aos 100. Era eu puto, mas só o tinha por alguns meses. A seguir tinha um Opel Record, com esse faziamos muitas viagens, somos quatro irmãos, podes-te imaginar o que se passava naquele enorme banco trazeiro....

 
At 19 junho, 2006 10:48, Blogger Francisco said...

Zig:
As empresas foram criadas para dar dinheiro, para transformar investimento em lucro. Tão simples como isso.
Se o Opel Combo pode ser produzido mais barato noutro sítio, os gestores estão-se perfeitamente nas tintas se vai ser em Portugal, Espanha, China, ou outro local qualquer.
Para eles, não há países, há oportunidades. Há lucro, não há caridade.
Se o contrato era até 2009, e se os contratos se fizeram para cumprir mas também para rescindir, eles vão pagar a indemnização decorrente dessa rescisão. E de certeza que já fizeram bem as contas e não vão ficar a perder.
Se a GM é americana, alemã, francesa, espanhola, do Burkina-Fasso, ou seja lá de onde for, isso é irrelevante. É uma empresa, fez-se para dar lucro.
Em Portugal, ainda há a ideia dos "direitos adquiridos" e do "emprego para a vida". Nos tempos que correm, isso é uma perfeita imbecilidade.
Os sindicatos preocupam-se mais com o combate do que com a cooperação. São intransigentes, e isso paga-se caro.
Na Europa de Leste, por exemplo, há vontade de trabalhar, alta qualificação e salário baixo.
Também têm sindicatos, mas são colaborantes e chegam a consensos.
Em Portugal, tivemos essa oportunidade e o que é que aconteceu?
Sindicatos dominados por partidos preocuparam-se mais em manter a agenda política de combate aos sucessivos Governos (PS ou PSD, tanto faz), em vez de assumirem uma postura de defesa laboral.
E os trabalhadores foram "no enrolo" sem dar por isso.
O resltado?
Fecharam as fábricas da Renault, da Citroen, da Fiat/Lancia e acabou a UMM.
Agora é a Opel. Nada de novo.
Os sindicatos não conseguiram (ou não quiseram, por motivos partidários, leia-se "PCP"), adaptarem-se aos novos paradigmas empresariais e industriais, colaborando, a bem dos trabalhadores. Em vez disso, como satélites do PCP, decidiram ser grupos de pressão contra os governos. Decidiram "fazer política".
Vê o caso do Brasil, onde a GM tem investido.
Lá a Opel não existe, mas os modelos são iguais com a diferença de terem a marca Chevrolet.
Desde os anos 70 que no Brasil são fabricados Chevys, Fiat, VW e Renault.
Porquê?
Porque há espírito empreendedor e colaborante. Porque o paradigma empresarial foi interiorizado.
E não se limitam a montar os carros: desenvolvem modelos próprios há 30 anos e exportam-nos para toda a América Latina (Renault, GM) e até para a Europa (VW Fox).
Em Portugal a empresa tem de ser "social"...
E eles vão para outros sítios.
Quanto a comprar, ou não, um Opel, nem coloco a questão.
Não gosto. A qualidade geral esteve sempre uns furos abaixo do que os alemães fazem.
Prefiro a VW e "derivados".

(desculpa lá o comentário ser tão grande)

 
At 19 junho, 2006 11:24, Blogger Zig said...

chico:
Excelente visão. Nenhum economista o faria melhor. Em geral estou de acordo contigo, mas, como disse, as empresas esquecem-se do factor humano. O aspecto negativo que deixa o fecho de uma fábrica em meu ver é maior do que o lucro que venha a surgir no futuro. Por exemplo, lembro-me de uma fábrica de transformação de batata fechar na região onde vivia, bem, durante meses não vendiam quase nada dessa marca. Hoje não sei, mas pelo que me constou, mudaram de nome! Claro que a Opel não pode fazer isso, por isso penso que vão ter um prejuízo grande em Portugal.

 
At 19 junho, 2006 12:05, Blogger Francisco said...

Zig, eu compreendo a tua posição ética e honesta, que não me surpreende por aquilo que conheço da forma como trabalhas (não só do que vou lendo aqui, mas também de experiência própria como teu cliente e de opiniões de outras pessoas).
Mas, se me permites, vou colocar-te uma questão e tu respondes, se entenderes que deves responder.
És um empresário e o teu ramo de actividade é a assistência técnica de material audiovisual, certo?
És um técnico especializado já bem conhecido e, como não queres perder clientes, apostas num serviço de qualidade, certo?
Nem sempre as reparações que fazes dispensam a substituição de peças, pelo que és obrigado a adquiri-las, não é assim?
Ao adquirir essas peças, escolhes o fornecedor que vende as melhores, e tentas maximizar a relação qualidade/preço.
Se, entre dois fornecedores, que disponibilizam a mesma peça, igualzinha, mas com uma diferença de preço, a quem vais adquirir?
Ao que vende mais barato ou ao que vende a mesma peça, mas mais cara?

Posso estar a fazer uma pergunta irrelevante, pois não estou dentro do ramo...

 
At 19 junho, 2006 14:53, Blogger Zig said...

chico:
Pois, é uma óptima pergunta, mas no nosso ramo damos sempre a preferência quem nos dá melhores condições de pagamento. Prefiro pagar a 30 dias do que à cobrança.
Mas claro, respondendo à tua pergunta, se for tudo igual, compro a quem vende mais barato, porque a origem da maioria das peças, se forem iguais, é a mesma.
Tirando uma vez, durante a crise em Timor, foi-me fornecido uma peça "made in Indonesia", tentei devolvê-la, mas só havia dessa origem e tive que a gramar....

 

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