domingo, 2 de abril de 2006

Os Vampiros

Espero que ninguém acreditou no post anterior, na minha intenção de me casar. Foi uma brincadeira de Abril. Continuo livre, nem um pássaro, mas de coração ocupado, como bem sabem.

Recebi este mail que não posso deixar de publicar aqui. É o posso, quero e mando!


Os Vampiros


A Caixa Geral de Depósitos (CGD) está a enviar aos seus clientes mais modestos uma circular que deveria fazer corar de vergonha os administradores - principescamente pagos - daquela instituição bancária.

A carta da CGD começa, como mandam as boas regras de marketing, por reafirmar o empenho do Banco em «oferecer aos seus clientes as melhores condições de preço/qualidade em toda a gama de prestação de serviços», incluindo no que respeita «a despesas de manutenção nas contas à ordem». As palavras de circunstância não chegam sequer a suscitar qualquer tipo de ilusões, dado que após novo parágrafo sobre «racionalização e eficiência da gestão de contas», o «estimado/a cliente» é confrontado com a informação de que, para «continuar a usufruir da isenção da comissão de despesas de manutenção», terá de ter em cada trimestre um «saldo médio superior a EUR1000, ter crédito de vencimento ou ter aplicações financeiras» associadas à respectiva conta.

Ora sucede que muitas contas da CGD, designadamente de pensionistas e reformados, são abertas por imposição legal. É o caso de um reformadopor invalidez e quase septuagenário, que sobrevive com uma pensão de EUR343,45 - que para ter direito ao piedoso subsídio de EUR3,57 (três Euros e cinquenta e sete cêntimos!) foi forçado a abrir conta na CGD por determinação expressa da Segurança Social.

Como se compreende, casos como este - e muitos são os portugueses que vivem abaixo ou no limiar da pobreza - não podem, de todo, preencher os requisitos impostos pela CGD e tão pouco dar-se ao luxo de pagar «despesas de manutenção» de uma conta que foram constrangidos a abrir para acolher a sua miséria.

O mais escandaloso é que seja justamente uma instituição bancária que ano após ano apresenta lucros fabulosos e que aposenta os seus administradores, mesmo quando efémeros, com «obscenas» pensões (para citar Bagão Félix), a vir exigir a quem mal consegue sobreviver que contribua para engordar os seus lautos proventos. É sem dúvida uma sordície vergonhosa, como lhe chama o nosso leitor, mas as palavras sabem a pouco quando se trata de denunciar tamanha indignidade.

Esta é a face brutal do capitalismo selvagem que nos servem sob a capa da democracia, em que até a esmola paga taxa.

Sem respeito pela dignidade humana e sem qualquer resquício de decência, com o único objectivo de acumular mais e mais lucros, eis os administradores de sucesso a quem se aplicam como uma luva as palavras sempre actuais dos «Vampiros» de Zeca Afonso: «Eles comem tudo/eles comem tudo/eles comem tudo e não deixam nada.»

Medita e divulga . . .

7 Comments:

At 03 abril, 2006 09:36, Blogger Francisco said...

Isto não tem nada que saber: ou privatizam de vez a CGD e os administradores farão o que lhes der na real gana; ou não privatizam e têm que fazer os possíveis para manter a dignidade dos clientes.
Uma coisa é um banco privado, onde o lucro (como diz o do BCP, "criar valor"), é o objectivo único. Outra coisa é um banco estatal (e partimos do princípio de que o Estado é uma "pessoa de bem"), que tem outro tipo de responsabilidades éticas que não se exigem a um privado.
Exigir uma média de 1000 euros por trimestre para isentar de despesas de manutenção quem, muitas das vezes, vê essa quantia como uma miragem, é desumano e imoral.

Sem querer comparar o incomparável, isto faz-me lembrar um tipo que julgava meu amigo, que insinuou que eu não tinha direito a ter carro, só porque fazia poucos quilómetros...

O que está aqui em causa não é só a questão do lucro entendido como fim em si. É, também, a quebra generalizada dos laços de solidariedade social. Cada um por si.
Se transpusermos o egoísmo pessoal para o egoísmo empresarial (que se aceita numa empresa privada mas nunca numa estatal), é isto que resulta.

 
At 03 abril, 2006 13:27, Anonymous Anónimo said...

Esses tipos ligaram-me às uns tempos e nem me disseram Bom-Dia. Chamaram-me logo de "pessoa sem palavra" sem me conhecerem de lado nenhum, porque supostamente faltavam lá uns balancetes à 2 meses da minha empresa que eu tinha entregue no balcão no dia imediatamente a seguir ao dia que mos pediram. E eu pergunto, onde pára a informação contabilistica da minha empresa?!? Lá ninguém sabe dela!
E depois vêm com falinhas mansas a pedir pra fazer lá mais movimentos ao perceberem que 85% dos movimentos da empresa não passam pela conta da CGD!! Deviam ter vergonha!

 
At 03 abril, 2006 17:54, Blogger RCataluna said...

A CGD é useira e vezeira nesse tipo de manobras. Ainda por cima é o Banco do estado, o que supõe que deveria ter preocupações de carácter social...

O atendimento nos balcões da CGD deixa, na minha opinião, muito a desejar. Já utilizei vários balcões a nível nacional e "Meu Deus"...

Também há, incluindo em Beja, bons profissionais, atenciosos e correctos no trato. Infelizmente não é a regra.
Por isso deixei de ter contas na caixa. Trabalho com o Montepio que, não sendo um "gigante", nem tendo uma vastíssima oferta, corresponde perfeitamente às minhas exigências.

Boa semana!

 
At 04 abril, 2006 00:16, Blogger Zig said...

todos:
Há alguns anos, ainda era casado, os reembolsos dos gastos médicos tinham de ser depositados pela ADSE na CGD. O problema era, que nunca sabíamos quando e quanto. Por vezes aconteceu que quando fui ver o saldo da conta, tinham descontado sem mais nem menos despesas de manutenção. Chegou ao cúmulo quando as despesas eram tantas quanto os reembolsos. Uma vaca leiteira.
Também trabalho com o Montepio Geral. Nada a dizer sobre este banco. Pelo contrário! Quando comprei casa, em 1987, esse banco foi o único a emprestar-me o dinheiro, e ainda por cima, eu estava na Alemanha, por força maior (logo conto essa história), uns amigos meus foram falar com o gerente do banco, e ele sem me conhecer concedeu o empréstimo. Por isso, ele é uma das pessoas responsáveis por eu estar cá em Portugal. Uma pessoa muito especial!

 
At 04 abril, 2006 15:25, Anonymous Anónimo said...

Só para que fique registado, também tenho a minha conta pessoal no Montepio Geral (desde o tempo em que existiam uns mealheiros em ferro). Até à data estou totalmente satisfeito quer com os produtos que o banco me tem disponibilizado, quer pela exclente simpatia e disponibilidade no atendimento.

 
At 04 abril, 2006 20:28, Anonymous Anónimo said...

Lá estás tu outra vez a meter a palavra Democracia onde ela não cabe. Democracia é o que temos. Escolha livre dos nossos representantes na assembleia da republica por sufrágio universal, liberdade de expressão, e as outras conquistas que hoje parecem naturais às gerações novas.
Os senhores da Caixa e outras instituições semelhantes leram a cartilha deste neoliberalismo onde não se quer que as empresas tenham lucros, mas que tenham lucros gigantescos e em ritmo alucinante.
Só uma regra vale: Se neste ano ganharam 10, para o ano tem de ser 100, e no outro terá de ser 1000.
Tudo vale para conseguir esse que é o unico objectivo.
EDP, Correios, Bancos. Tudo a mesma merda. Num ano ganham triliões. Qual é o resultado?
Despedimentos. Menos gente, menos qualidade, pior serviço...e mais lucro. ( Não sei até quando, há um momento de rotura certamente)
Agora diz-me o que tem isto a ver com Democracia?

 
At 04 abril, 2006 23:31, Blogger Zig said...

anónimo:
Esta pergunta é para mim? Acho que não falei em democracia, desta vez. Além disso foi um e-mail que me foi enviado.
O problema dos lucros é, que há uns anos essas empresas venderam acções acima do real valor. Como se sabe, o preço ajustou-se e agora os accionistas querem dividendas. Paciência!

 

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