terça-feira, 29 de julho de 2008

Legalidades

Numa das próximas reuniões no seio de uma das duas colectividades a que pertenço, vou pedir ao seu presidente, quase no fim, que dê essa reunião como concluída, fechar a acta, levá-la consigo e sair da sala. Depois da saída dessa pessoa do lugar da reunião, vou perguntar aos restantes participantes se essa mesma reunião terminou, e, no caso de a resposta for não, pergunto se ainda há condições para continuar e se é possível tomar decisões importantes!

Para quem não estiver a ver aonde quero chegar com esta conversa toda, vai achar-me maluco de vez! Claro que não, seria a resposta. Para os que estão a ver onde quero chegar, pergunto: como é que é possível que um desfecho deste tipo seja invalidado através de uma opinião de uma pessoa muito importante na nossa sociedade e que a continuação dessa reunião mais as suas decisões passe a ser legal?

Não estão em causa os “pormenores técnicos” dessa reunião, é completamente indiferente se o assunto é a modernização da casa de banho da casa do povo de uma qualquer aldeia ou a descida de divisão de um dos mais históricos clubes de futebol em Portugal! O segundo assunto dessa dita reunião, o da suspensão de JNPC penso que é irrelevante, existem telemóveis e mails, ele continuará a ter os cordelinhos na mão na mesma, para grande desgosto de LFV e companhia. Mas para mim trata-se de uma questão de princípio! Não se pode alterar um desfecho de uma reunião presidida por pessoas legitimamente eleitas com base de uma opinião de uma pessoa, por mais importante que ela seja! Isto vai abrir um precedente, uma situação que se pode repetir em qualquer altura e em qualquer lugar, basta haver divergências graves para “invocar” essa dita reunião terminada de uma forma muito pouco convencional...peeeenso eu de que...

3 Comments:

At 29 julho, 2008 07:55, Anonymous Anónimo said...

Meu estimado Zig:
No Chile do Pinochet de má memória, o presidente queria, podia e mandava... Por cá, ainda (já)não é assim... O que faltava era que o presidente de qualquer colectivo pudesse impôr aos restantes PARES a sua vontade pessoal... Nem valia a pena haver outros membros... Mas, já leste o parecer? Está aqui:
http://www.fpf.pt/portal/page/portal/PORTAL_FUTEBOL/ DOCS/DOCS/Parecer%20Prof.%20Freitas%20do%20Amaral.pdf

Um abraço do Ressonador

 
At 29 julho, 2008 08:08, Anonymous Anónimo said...

E, já agora, porque estou em absoluto acordo, transcrevo o artigo que segue:

FREITAS, O PORTO E A LONGA VIDA DAS BARATAS

João Miguel Tavares
jornalista
jmtavares@dn.pt


O comunicado da SAD do Futebol Clube do Porto em resposta ao parecer de Freitas do Amaral é uma peça de alta comédia e um excelente retrato da mentalidade mais rasteira que por aí sobrevive. Durante anos e anos o futebol português foi um ecossistema onde muitos se alimentaram, cresceram e se reproduziram através de golpes baixos e jogadas de bastidores, construindo um mundo imprestável, onde as almas decentes só entravam com dois dedos a tapar o nariz. A falência económica dos clubes e a sua profissionalização através das SAD obrigaram a clarificar certos procedimentos, única forma de assegurar a sobrevivência do próprio futebol. Mas há hábitos difíceis de perder, e por isso assiste-se hoje a uma guerra entre o velho e o novo mundo, entre quem tenta despoluir o sistema e quem está tão habituado a viver no meio da imundice que é incapaz de abdicar dos seus vícios. O comunicado da SAD do Porto é notável por isso: ali estão, à vista de todos, dois mundos em colisão.

O que se passou na já famosa reunião do Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Futebol não admite dúvidas jurídicas, desportivas ou morais. Independentemente da decisão que estava em causa, da descida do Boavista ou da penalização de Pinto da Costa, só mesmo a claque dos SuperDragões ou gente com paralisia cerebral pode fingir não ter visto o que toda a gente viu: uma manobra inacreditável do presidente do CJ, António Gonçalves Pereira, para manipular o conselho a seu bel-prazer e beneficiar Porto e Boavista, desse por onde desse. O parecer de Freitas do Amaral sublinha apenas o óbvio, com a vantagem de sustentar esse óbvio com argumentos jurídicos irrefutáveis e numa linguagem compreensível por qualquer mortal. Freitas é de tal forma cristalino na descrição das sucessivas golpadas tentadas por Gonçalves Pereira que a carreira deste como advogado e político só não está acabada se não houver um pingo de vergonha nesta terra.

Ora, diante de tudo isto, o que diz a SAD do Porto? Que o mesmo professor Freitas do Amaral que antes de divulgar o parecer era o supra-sumo do direito administrativo se transformou subitamente numa figura sem credibilidade. Que o parecer é, afinal, uma mera "consulta". E que ainda por cima ele comete o pecado mortal de atribuir "toda a razão a apenas um dos lados", em vez de "encontrar uma solução equilibrada e justa". Ou seja, para a SAD do Porto, o parecer de Freitas do Amaral peca por excesso de clareza - de forma imperdoável, ele disse que o preto era preto e o branco, branco. Habituada a mover-se em águas turvas, esta gente dá-se mal com a nitidez, e tem saudades das decisões salomónicas que agradavam a gregos e a troianos. O velho mundo de futebol é como as baratas: especialista em ziguezagues e muito difícil de matar. Mas quando a carapaça estala... ui, que prazer que dá ouvir aquele crrrack.

Ressonador

 
At 29 julho, 2008 11:08, Blogger Zig said...

NG:

Mas que longo comentário, não era necessário tanto e muito menos levantar-te tão cedo! (hehehe)

Nunca defendi aqui as manias de JNPC, sempre achei que este estilo de dirigir um clube devia de acabar. No entanto, na segunda circular as coisas não estão muito melhores, sentem-se apenas no direito de serem eternas vítimas por não conseguirem mostrar o mesmo futebol que mais a norte se pratica.

Voltando ao caso. Não estou a contestar a descida do Boavista e muito menos o "castigo" a aplicar ao "meu" presidente. Só estou a dizer que essa reunião, da maneira como acabou, vai dar um exemplo a muitas outras que se vão seguir, "opinionmakers" vão substituir órgãos legitimamente eleitos e muitas decisões de muitas outras reuniões vão poder ser postas em causa.

É só isso...

 

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