segunda-feira, 25 de junho de 2007

Distante Melodia

Num sonho de Íris morto a oiro e brasa,
Vêm-me lembranças doutro Tempo azul
Que me oscilava entre véus de tule —
Um tempo esguio e leve, um tempo-Asa.

Então os meus sentidos eram cores,
Nasciam num jardim as minhas ânsias,
Havia na minha alma Outras distâncias —
Distâncias que o segui-las era flores…

Caía Oiro se pensava Estrelas,
O luar batia sobre o meu alhear-me…
— Noites-lagoas, como éreis belas
Sob terraços-lis de recordar-me!…

Idade acorde de Inter-sonho e Lua,
Onde as horas corriam sempre jade,
Onde a neblina era uma saudade,
E a luz — anseios de Princesa nua…

Balaústres de som, arcos de Amar,
Pontes de brilho, ogivas de perfume…
Domínio inexprimível de Ópio e lume
Que nunca mais, em cor, hei-de habitar…

Tapetes de outras Pérsias mais Oriente…
Cortinados de Chinas mais marfim…
Áureos Templos de ritos de cetim…
Fontes correndo sombra, mansamente…

Zimbórios-panteões de nostalgias,
Catedrais de ser-Eu por sobre o mar…
Escadas de honra, escadas só, ao ar…
Novas Bizâncios-Alma, outras Turquias…

Lembranças fluidas… Cinza de brocado…
Irrealidade anil que em mim ondeia…
— Ao meu redor eu sou Rei exilado,
Vagabundo dum sonho de sereia…

(Mário de Sá-Carneiro)

Saudosista, eu? Não!
Mas se soubesse nos meus tempos “áureos” o que sei hoje....

2 Comments:

At 26 junho, 2007 19:24, Blogger RCataluna said...

Mais uma vez, uma excelente escolha...

ABraço!

 
At 26 junho, 2007 20:22, Blogger Zig said...

rcataluna:
Obrigado....

 

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