sexta-feira, 11 de maio de 2007

Dissolver

Dissolvi tudo, calmamente, em nada
E fiz do meu caminho um paradoxo.
Sinto-me ferido na errância grata
À lúcida faca, ao preciso corte.

Vou atrás dos olhos e sempre dos lógicos
Pensamentos, volto à poeira dos dedos
E recebo o tóxico da palavra inútil
Pra falar de mortos, do amor e Deus
Ouve-me em silêncio e cala-me os medos.

Sou uma palavra redita em surdina,
Uma pedra errante sobre o mar indúctil;
Com o descruzar dos dias antigos
Descasco a palavra, abro-lhe o caroço,
Encontro a semente e calo o que digo.

(Francisco Soares)