sexta-feira, 28 de maio de 2010

Ricochete




Que margens têm os rios
Para além das suas margens?
Que viagens são navios?
Que navios são viagens?

Que contrário é uma estrela?
Que estrela é este contrário
De imaginarmos por vê-la
Tudo à volta imaginário?

Que paralelas partidas
Nos articulam os braços
Em formas interrompidas
Para encarnar um espaço?

Que rua vai dar ao tempo?
Que tempo vai dar à rua
Por onde o Firmamento
E a Terra se unem na lua?

Que palavra é o silêncio?
Que silêncio é esta voz
Que num soluço suspenso
Chora flores dentro de nós?

Que sereia, é o poente,
Metade não sei de quê
A pentear-se com o pente
Do olhar finito que o vê?

Que medida é o tamanho
De estar sentado ou de pé?
Que contraste torna estranho
Um corpo à alma que é?

(Natália Correia)
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