sexta-feira, 17 de julho de 2009

Apesar de Tudo



Apesar de tudo, continuamos amando,
e este “apesar de tudo” cobre o infinito.
Esta frase do filósofo Cioran expressa a extensão
dos nossos obstáculos amorosos.
Apesar de termos acreditado
na eternidade dos nossos sentimentos
e depois descobrirmos que nada mantém-se estável
por muito tempo, continuamos amando.
Apesar de termos sofrido noites inteiras
por amores que não se concretizaram
ou que foram vagos ou pueris,
continuamos amando.
Apesar de termos sido rejeitados,
apesar de o nosso amor não ter sido suficiente
para encantar o outro
e fazê-lo permanecer ao nosso lado,
continuamos amando.
Apesar de todos os livros escritos,
todas as sentenças filosóficas,
todas as análises terapêuticas
e todos os exemplos de paixões falidas,
continuamos amando.
Apesar de não termos mais 15 anos
e estarmos numa idade em que os outros acreditam
que o nosso coração envelheceu,
continuamos amando.
Apesar de a pessoa que a gente ama
sentir por nós um amor de amigo,
um amor fraterno, um amor camarada
que nada faz lembrar o amor ardente
que a gente deseja e sonha,
continuamos amando.
Apesar de a gente saber que o amor acaba,
que o amor talvez nem seja pelo outro,
mas apenas uma projecção do amor
que a gente tem por nós mesmos,
continuamos amando.
Apesar da falta de grana,
das desilusões com a política,
do cansaço no final do dia,
dos projectos que não foram adiante,
do tempo que nos falta e do medo que nos sobra,
continuamos amando.
Apesar da chuva que não permite o passeio
de mãos dadas,
do espaço compartilhado que não permite privacidade,
da desaprovação dos que nada têm a ver com o assunto,
continuamos amando.
Infinitamente, apesar de tudo e todos
e apesar de nós mesmos, continuamos amando.....

(Marta Medeiros)
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