terça-feira, 3 de julho de 2007

A Moira Encantada

Meia-noite além ressoa cerca das ribas del mar,
meia-noite já é dada e o povo ainda a folgar.
Em meio de tal folguedo todos quedam sem falar,
olhos voltam ao castelo para ver, para avistar
a linda moira encantada, que era triste, a suspirar.
– Quem se atreve, ai quem se atreve ir ao castelo e trepar
para vencer lo encanto que tanto sabe encantar?
– Ninguém há que a tal se atreva, não há que em moiras fiar;
quem lá fosse a tais desoras para só desencantar,
grande risco assim correra de não mais de lá voltar.
– Ai que linda formosura, quem a pudera salvar!
O alvor dos seus vestidos tem mais brilho que o luar!
Doces, tão doces suspiros, onde ouvi-los suspirar?
–Assim um bom cavaleiro só se estava a delatar;
em amor lhe ardia o peito, em desejos seu olhar.
Três horas eram passadas neste contínuo ansiar.
Cavaleiro de armas brancas nunca soube arreceiar:
invoca a linda moirinha, mas não ouve o seu falar.
Nada importa a D. Ramiro mais que a moira conquistar;
vai subir por muro acima, sente os pés a resvalar.
Ai, que era passada a hora de a poder desencantar.
Já lá vinha a estrela d'alva com seus brilhos a raiar;
no mais alto do castelo já mal se via alvejar
a fina branca roupagem da linda filha de Agar.
Ao romper do claro dia, para bem mais se pasmar,
sobre o castelo uma nuvem era apenas a pairar.
Jurava o povo, jurava, e teimava em afirmar
que dentro daquela nuvem vira a donzelinha entrar.
D. Ramiro, d'enraivado de não poder-lhe chegar,
dali parte, e contra os moiros grande briga vai armar.
Por fim ganha um bom castelo, mas sem moira para tomar.

(Romance tradicional recitado pela Trupe Barlaventina)