5 Poemas de Miguel Torga sobre o Alentejo
Canção para o Alentejo
Alentejo, Alentejo,
Vastidão de Portugal
Futuro, continental!
Terra lavrada, que vejo
A ser mar mas sem ter sal.
Ondas de trigo maduro
Onde mais ninguém se afoga:
Danças alegres da roga
Que vindima no meu Doiro
E vem colher o pão loiro
Da inteira fraternidade
Que falta a esta metade
De coração largo e moiro...
Insónia Alentejana
Pátria pequena, deixa-me dormir,
Um momento que seja,
No teu leito maior, térrea planura
Onde cabe o meu corpo e o meu tormento.
Nesta larga brancura
De restolhos, de cal e solidão,
E ao lado do sereno sofrimento
Dum sobreiro a sangrar,
Pode, talvez, um pobre coração
Bater e ao mesmo tempo descansar...
Alentejo
Terra parida,
Num parto repousado,
Por não sei que matrona natureza
De ventre desmedido,
Olho, pasmado,
A tua imensidade.
Um corpo nu, em lume ou regelado,
Que tem o rosto da serenidade.
Alentejo (2)
A lua que te ilumina,
Terra da cor dos olhos de quem olha!
A paz que se adivinha
Na tua solidão
Que nenhuma mesquinha
Condição
Pode compreender e povoar!
O mistério da tua imensidão
Onde o tempo caminha
Sem chegar!...
Soluço à vista de Olivença
Alentejo!
Minha terra total!
Meu Portugal
Aberto,
Eternamente incerto
Nas fronteiras, no tempo e nas colheitas!
Minhas desfeitas
Praças fortificadas!
Minhas insatisfeitas
Correrias,
A contar no franzido das lavradas
As rugas tatuadas
No rosto dos meus dias...
4 Comments:
Que coisa mais linda! Obrigada.
Muito boa-noite!
Obrigada por me ter mostrado, dois poemas do Torga, que não me lembro de ter lido alguma vez, e olhe que eu pensava que os conhecia todos:
Li Torga até à exaustão (se é que alguma vez me posso cansar de ler Torga).
Obrigada por partilhar o seu gosto pela poesia de Torga.
Que me diz dos (Novos contos da montanha?)
Eu fiquei encantada.
Esmeralda Neto
Esmeralda Neto:
Sabe, quando me mandam um lindo poema coloco-o aqui no blog, não sou leitor de poesia, infelizmente ;)
vou também enviar uma singela omenagem ao nossso ALENTEJO.
Observei-te Vila Alva,lugar aprazível,tranquilo,cuja natureza amena só tu têns.O teu perfume selvagem mistura-se com as minnhas recordações de menina, provocando em mim uma vontade imensa de voltar para tràs e viver intensamente os teus recantos de uma harmonia quaze virgem, onde contam a soma dos dias e das horas onde tudo é tão natural.
Os teus campos floridos com cheiro a rosmaninho e mel,terra de odores que desencandeiam sentimentos profundos e se penetrão no meu cérebro.
Terra de trigo loiro,com cheiro a pão quente,onde os rouxinóis cantam melhor do que em qualquer lugar.
Recordo as noites quentes, o cheiro das eiras, aquele cheiro a trigo malhado,o cantar dos grilos e das rãs essa mistura de cheiros e sons que despertaram os meus sentidos e ficaram gravados para sempre na minha alma.
De Maria de Jesus
Uma saudusista assumida um abrraço
a todos os alentejanos.
Enviar um comentário
<< Home