domingo, 1 de outubro de 2006

Histórias da minha Vida III

No terceiro capítulo das histórias da minha vida vou falar da minha segunda paragem. Vivi em Eislingen/Fils, também perto de Estugarda, até 1967. Foi a cidade onde nasceram as minhas duas irmãs, e foi a cidade que me viu entrar pela primeira vez numa escola. Uma cidade média, sem elevações de relevo, com gente simpática e trabalhadora como em toda essa zona. Um post não vai chegar para contar todas as lembranças que tenho sobre esse local, espero não vos maçar muito com essas histórias da minha já longa vida!

Lembro-me muito bem da casa, uma vivenda de dois andares. Essas casas tinham normalmente cave e sótão, nós vivíamos no rés-do-chão, o senhorio e dono da casa ocupava o primeiro andar. Éramos muito amigos da família do senhorio, também eles uma família numerosa, tinham cinco filhos, todos rapazes. Lembro-me de ter brincado no enorme quintal da casa com o filho mais novo deles, chamava-se Wolfgang. Ele tinha a mania de saltar um muro que fazia fronteira com a casa vizinha, bem, uma vez não quis ficar atras, saltei também e – claro, tinha que acontecer, bati com os joelhos no nariz que ficou a sangrar! É que eu era muito magricelas, um risco na paisagem, mas já muito alto para a idade que tinha. Mais tarde tive uma alcunha, chamavam-me Aral Super Stengel! Havia (e há) na Alemanha bombas de gasolina da marca Aral, na altura inventou-se a gasolina Super, um “Stengel” é uma vara fina e comprida, daí o nome....

Bem, a cave desta casa deu-me literalmente muitos pesadelos. Sonhava em descer a esta cave, ligar a luz e - nada! A luz não acendia, depois ficava com medo do escuro e acordava todo suado. Isto durante muitos anos. Um dia pensei, se vou ter novamente este sonho vou obrigar essa luz a acender! Dito e feito. No meio do sonho fiz mesmo acender essa luz, depois fui lá abaixo fazer o que tinha a fazer, no sonho, claro. A partir desta noite nunca mais tive esse sonho. Mesmo em pesadelos futuros fiz sempre o mesmo. Esforcei-me para resolver os problemas levantados nesses sonhos. Pelo menos as noites ficavam mais descansadas, já que os dias por vezes tornavam-se autênticos pesadelos, mas só a partir da terceira morada que tivemos.

Lembro-me bem da sala de estar do senhorio. Tinha muitos sofás e uma televisão no meio. Eram pessoas abastadas, não era muito vulgar na altura ter um aparelho desses. Nós só adquiríamos uma TV por volta de 1972! O dono de casa levava-me muitas vezes às suas vinhas, mas involuntariamente! Sentava-me no carro dele, ele não me conseguia tirar dali, que remédio tinha ele em me levar. O carro era um Mercedes 180D, com um tacómetro que parecia um pequeno silo. Ele era um tipo algo rabugento, um pouco bruto mas de bom coração. Era isso que me fez gostar dele! Por falar em gostar! Na altura falava muito com uma vizinha da minha idade. Disseram-nos sempre que éramos namorados. Mas com seis anos sabia lá eu o quê é que era isso. Nós nos encontrámos sempre perto de um arbusto, conversávamos durante muito tempo. Não me dei conta que faria aí uma grande amizade, o certo foi que quando nos mudávamos dessa terra, olhei para esse arbusto e me deu um grande aperto no coração....

Na próxima semana há mais....