segunda-feira, 21 de julho de 2008

O Estado da Nação

Texto recebido por mail:

Caras Amigas e Amigos,

Passei hoje toda a manhã na Assembleia da República, para assistir à discussão da petição sobre os Direitos Humanos no Tibete, de que fui o primeiro subscritor e que obteve 11000 assinaturas. Mas não é disso que venho falar. Venho falar da confirmação directa da imagem que já tinha do estado da nação, no que respeita aos seus representantes parlamentares.

Hoje era o último dia de trabalhos antes das férias parlamentares, com uma agenda cheia de debates e votações sobre projectos de lei e petições. Às 10 horas, quando abriram os trabalhos, as bancadas teriam no máximo um terço dos deputados. À medida que os vários oradores, do governo e dos partidos, tomavam a palavra, aquilo a que se assistia era o seguinte: dos escassos presentes, ninguém parecia estar a ouvir absolutamente nada; uns levavam o portátil e mandavam mails, outros falavam ao telefone, uns conversavam em pequenos grupos, alguns de costas viradas para o orador, outros liam tranquilamente os jornais: diários, desportivos, etc. Apenas interrompiam estas actividades para aplaudirem maquinalmente o orador do seu partido, voltando depois ao mesmo.

Foi só por volta do meio-dia que o hemiciclo se começou a compor e só então chegaram as figuras mais relevantes e as caras mais conhecidas dos vários partidos, com ar descontraído, palmadinhas nas costas e sorrisos cúmplices para os seus correlegionários. Foi por essa altura que a petição relativa ao Tibete começou a ser discutida. Quando a deputada do PS começou a apresentar o relatório sobre a situação no Tibete, elaborado a partir das reuniões que o grupo parlamentar dos Negócios Estrangeiros manteve connosco, o ruído das conversas era tal que ela teve de parar por duas vezes e o próprio Presidente da Assembleia, Jaime Gama, de pedir silêncio aos "senhores deputados". Sem qualquer efeito. O ambiente era igual ou pior ao de uma turma das mais indisciplinadas do ensino primário ou secundário. Em abono da verdade, ressalve-se que só a bancada do Bloco de Esquerda e do Partido Comunista mantinha relativamente maior silêncio e compostura.
Seria apenas hoje, por ser o último dia antes das férias? Não. Uma amiga que lá trabalha esclareceu que é sempre assim.

Após a apresentação das várias matérias em debate, nestas circunstâncias de total alheamento e desrespeito mútuo, ia-se seguir a votação. Levantei-me e vim-me embora. Estava elucidado e só pensava que, após dois mandatos de quatro anos nesta vida, saem de lá com belas reformas para sempre.

Estou esclarecido sobre o estado da nação, espelhado no seu Parlamento, que deveria ser-lhe exemplo. Só pergunto, a mim e a vocês, se são estes os nossos representantes, se são estes que queremos como representantes. É isto democracia, partidocracia ou mediocrecracia? E o que fazemos?

Paulo Borges

5 Comments:

At 21 julho, 2008 22:21, Blogger Pipas said...

Zig e Paulo Borges:

Fiquei triste com este relato. Pelo menos alguns temas, em que a sociedade civil teve uma participação forte, deveria serbalvo de mais respeito... que é feito deste valor??? Paulo, haverá alguma outra forma que pudesse dar a conhecer este comportamento dos nossos deputados e a forma de lidar com temas como os do Tibete? Sei lá... passar este mail por toda a gente que cada um conhece, com o pedido de passar a mensagem. Se resulta para as gasolineiras, haveria pelo menos mais portugueses a ter conhecimento do que se passou hoje... que acham? Encolher os ombros e virar costas...ainda não me parece a melhor forma de lidar com isto:(

 
At 21 julho, 2008 22:22, Blogger Pipas said...

corrijo...ser alvo

 
At 21 julho, 2008 22:54, Blogger Zig said...

pipas:

É por essas e outras, a abstenção nas eleições está sempre a aumentar...

 
At 22 julho, 2008 18:18, Anonymous Anónimo said...

O que lá se assistiu, é puramente a vontade do povo.
Ou seja, não se importam com nada e de nada reclamam.
Ora, não é necessário ir assistir in loco para se saber que é assim. Basta vêr no canal 2 à tarde (não sei a que dias e a que horas, mas sei que dá neste canal) para nos apercebermos o bem governados que estamos a ser.
E se estiver a dar algum jogo de futebol interessante?! Aí é que o hemiciclo fica ás moscas.
É assim temos o país que merecemos!!
El Juanito.

 
At 22 julho, 2008 23:34, Blogger Zig said...

El Juanito:

A razão deste estado de ser é simples de encontrar. O "chefe" deles, o presidente da AR, é um "igual" e ainda por cima eleito pela própria AR! Só não entendo os porquês de ninguém criticar este estado das coisas, principalmente por parte do BE ou do PCP, já que estão normalmente sempre crítivos a tudo e mais alguma coisa. A não ser que também já se estão a "submeter" a esse estado da nação...

 

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