terça-feira, 8 de abril de 2008

Ser de passagem...

Werden und Vergehen (Formar e Esmaecer)



SER DE PASSAGEM

O homem parou no patamar da
noite, os olhos como pássaros
rendidos ao luar. Os ombros
firmes como árvores. Os lábios
destilando o mar. Ébrio do susto
de estar só, só a noite o invade.
Pássaro sem bando, árvore sem
pomar, difícil de ser verdade.
Nada é brusco em seu olhar.
Dos dedos resvalou há muito o
mando, já não existe de fora
em que mandar. E quase rei,
todavia. Só a noite o sabe, é seu
par nesta agonia lenta.
Já nada o tenta.
Nem o nascer do dia.

(Silva Marques)