domingo, 10 de fevereiro de 2008

Requiem por um Cão

"Alertado" sobre este poeta aqui, procurei na net e encontrei um site sobre o próprio. O poema que mais gostei não podia ser outro senão este:


Cão que matinalmente farejavas a calçada
as ervas os calhaus os seixos e os paralelepípedos
os restos de comida os restos de manhã
a chuva antes caída e convertida numa como que auréola da terra
cão que isso farejavas cão que nada disso já farejas
Foi um segundo súbito e ficaste ensanduichado
esborrachado comprimido e reduzido
debaixo do rodado imperturbável do pesado camião
Que tinhas que não tens diz-mo ou ladra-mo
ou utiliza então qualquer moderno meio de comunicação
diz-me lá cão que faísca fugiu do teu olhar
que falta nesse corpo afinal o mesmo corpo
só que embalado ou liofilizado?
Eras vivo e morreste nada mais teus donos
se é que os tinhas sempre que de ti falavam
falavam no presente falam no passado agora
Mudou alguma coisa de um momento para o outro
coisa sem importância de maior para quem passa
indiferente até ao halo da manhã de pensamento posto
em coisas práticas em coisas próximas
Cão que morreste tão caninamente
cão que morreste e me fazes pensar parar até
que o polícia me diz que siga em frente
Que se passou então? Um simples cão que era e já não é
(Ruy Belo)


É um poema triste, mas quantas pessoas não viveram já uma situação semelhante...

2 Comments:

At 10 fevereiro, 2008 19:17, Blogger Van Dog said...

É. Triste e bonito.

 
At 10 fevereiro, 2008 20:11, Blogger Zig said...

Em quase todas as acções públicas nossas vou conhecer pessoas que após um episódio desses nunca mais quiseram ter um cão...

 

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