quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Ainda o Caso Natascha Kampusch

Um texto de Laurence Monnot, correspondente do Le Monde em Viena – Áustria, com tradução de Jean-Yves de Neufville.
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Cansada de ver a imprensa entreter-se com a sua vida de vítima, Natascha Kampusch, a jovem austríaca que permaneceu sequestrada durante oito anos, partiu para a ofensiva. Ela será a animadora de um programa televisivo que estreará a partir de Fevereiro de 2008 no novo canal austríaco Puls 4.

A Puls 4, um canal regional que pertence ao grupo alemão Prosieben Sat. 1, está se preparando para lançar uma nova programação nacional em Fevereiro.

A jovem mulher, que foi promovida recentemente ao status de jornalista e de animadora de programas de televisão, escolherá, ela própria, os convidados do seu programa. Estes deverão ser "personalidades excepcionais" do mundo político, artístico ou social, conhecidas ou não do público, cujas realizações deixaram a futura apresentadora impressionada. As sessões de teste já começaram.

Auxiliada pela redacção da Puls 4 e pela equipe da Diamond Age, a empresa de relações públicas que a representa, Natascha Kampusch aprendeu os segredos da entrevista televisiva e então analisou as imagens junto com os seus formadores. Faltando um mês e meio apenas para a estreia, o formato do programa, que provavelmente será mensal, e papel exato da apresentadora ainda estão por serem definidos.

Em Agosto de 2006, a menininha que fora sequestrada aos 10 anos havia ressurgido na mídia, agora com a aparência de uma jovem mulher de 18 anos. O seu destino havia fascinado a opinião pública no mundo inteiro, mas ela preferiu contar o menos possível a respeito. A partir daquele momento, ela passou a dedicar uma grande parte da sua vida de mulher livre a se proteger da curiosidade dos meios de comunicação e dos fotógrafos.

Um único jornalista da televisão nacional austríaca, que foi capaz de inspirar-lhe confiança, foi autorizado a entrevistá-la, mas com a condição de que ele censurasse o seu próprio trabalho. As perguntas desagradáveis, como aquela a respeito de suas relações com o sequestrador, não foram abordadas. Um cuidado que o jornalista explicou alegando a necessidade de proteger a vítima de um novo trauma.

Natascha Kampusch teme os meios de comunicação e não hesita a processá-los na justiça pela publicação de fotos ou de comentários não autorizados. Ela os considera "parciais e ingénuos", mas, durante oito anos, eles foram o seu único vínculo com o mundo exterior.

"Papel activo"
Seria possível imaginar alguma divulgação melhor para a estreia deste canal do que incluir a jovem sequestrada na programação? Uma pesquisa de opinião que foi realizada no final do ano de 2006 na Áustria a apontava como a personalidade mais popular do país depois do presidente da República. No papel de entrevistada, a jovem mulher conseguiu impressionar o público com a sua maturidade e a sua eloquência muda de vítima, fazendo disparar os índices de audiência do canal nacional.

"Há muito tempo que eu estou pensando em abandonar o papel passivo de objecto da curiosidade da mídia para assumir um papel activo", disse Natascha por meio de seu porta-voz, um funcionário da agência de comunicação Diamond Age.

Christoph Feuerstein, o autor das entrevistas televisivas que foram difundidas no mundo inteiro, que até hoje mantém contacto regular com ela, avalia que este grande salto é prematuro. Aos 19 anos, Natascha já recuperou o seu atraso escolar e está se preparando para obter um diploma de curso primário, mas, até hoje ela segue sendo acompanhada por psicólogos.

As desavenças dos seus pais, que se manifestam por intermédio de advogados e de notas oficiais, não poupam nem a própria filha. Ela mesma deverá comparecer a uma audiência na primavera de 2008, devido a um processo que opõe a sua mãe a um antigo juiz que está convencido da cumplicidade desta última no seu sequestro.
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