RTP - Serviço Público?

Texto publicado em simultâneo aqui e na Taberna dos Inconformados

Quem sintonizou esta manhã e esta tarde a sua TV na RTP1 teve oportunidade em ver um programa de nome Portugal Azul transmitido em directo de Beja, mais precisamente da Praça da Conceição frente ao Museu Regional. Foi sem dúvida um bom programa, teve um pouco de tudo, entrevistas a várias personalidades de Beja ou do distrito de Beja, muita música, entre outras, a canção vencedora do Festival da Canção RTP, e muitas reportagens sobre a capital do Baixo Alentejo e não só.

Foi um dia em cheio, com muita gente a assistir. Um programa desses, e em directo, necessita um enorme aparato de meios técnicos e humanos. Foi um número elevado de carrinhas e camiões que levaram tudo para Beja, muitas horas gastas na montagem e desmontagem do palco, para não falar da exposição na Ovibeja que durou até hoje. Mas, para onde é que quero chegar com esta alistagem toda?

Quero frisar hoje e aqui uma questão antiga, não só a nível nacional, mas também internacional. Num mundo de hoje haverá lugar para estações televisivas públicas? São, pelo menos a RTP, financiadas em grande parte do erário público ou por impostos indirectos. Gastam muito dinheiro em programas nem sempre com muita audiência, têm meios técnicos do bom e do melhor e, como se viu aqui em Beja, meios de boa qualidade que certamente não foram baratos. Claro, muitos desses meios foram alugados, mas outros eram propriedade da RTP.

Agora, vale a pena que se gaste tanto dinheiro numa estação pública? Eu digo, com muita convicção, que sim! Claro, podiam e deveriam de cortar em algumas despesas, como por exemplo nos enormes prémios distribuídos em alguns concursos, mas, no geral, os gastos têm a sua justificação! Para começar, a RTP tem um grande papel na manutenção da identidade portuguesa, por ser integralmente português. Não há (tanto quanto sei....) “tubarões” espanhóis ou italianos a quererem meter a sua colher, não há accionistas a querer ver resultados. Há, na sua generalidade, programas que respeitam a língua portuguesa, tão maltratada nos tempos de hoje.

Mas, como seria a televisão sem a RTP, só com privados? Para ver um exemplo temos de atravessar o atlântico, e observar a situação nos EUA. Lá reina o puro sentido empresarial, sem olhar a meios para atingir bons níveis de audiências. Dezenas de canais, temáticos ou generalistas, invadem as casas dos americanos. Poucos programas se aproveitam neste “american way of life”, um mar de telenovelas e concursos estúpidos, talkshows que não lembram a ninguém e fazedores de opinião melhores do que em qualquer ditadura.

Não queremos isso, pois não? Por isso, a nossa RTP, o serviço público, faz cá muita falta!