terça-feira, 4 de novembro de 2008

A morte nunca existiu



A morte nunca existiu,
é pela vida gerada.
Da vida passa p'rá morte
é quando fica a morte formada.

Tudo o que for vivente tem
uma queixa que o percorre
e quando um dia a vida morre
a morte morre também.
Essa já não mata ninguém
onde nasceu se sumiu
só p'ra esse corpo serviu
ali fez as contas do Porto
não vai dum p'ra outro corpo
porque a morte nunca existiu.

A morte não sai p'rá rua
nem anda de terra em terra
e quando um dia a vida degenera
a morte, cada um tem a sua.
Essa já não continua
onde nasceu foi acabada
depois foi ser enterrada
com o corpo debaixo do chão
mesmo nessa ocasião
foi pela vida gerada.

Onde é que essa morte está?
Onde tem o acampamento?
P'ra matar milhares ao mesmo tempo,
uns no estrangeiro, outros cá.
Essa morte não haverá
p'ra que faça tanto corte
ainda mesmo que seja forte
que haja isso eu não acredito
estragou-se o sangue, perdeu o esp'rito
da vida passou à morte.

Como é que podia ser
uma morte só ter tanta substância,
o mundo tão grande distância
p'ra tanto vivente morrer?
Cada um tem de a sua ter
e pela vida é que é fundada
que ela, que anda de estrada em estrada
ninguém tenha esse abismo
desde que pára o maquinismo
é que fica a morte formada.

(António Joaquim Lança)