sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Diferente...

Fonte da imagem
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Diferente não é quem pretenda ser.
Esse é um imitador do que ainda não foi imitado,
nunca um ser diferente.
Diferente é quem foi dotado de alguns mais
e de alguns menos em hora, momento e lugar errados
para os outros que riem de inveja de não serem assim.
O diferente nunca é um chato.
Mas é sempre confundido
por pessoas menos sensíveis e avisadas.
Supondo encontrar um chato onde está um diferente,
talentos são rechaçados; vitórias, adiadas.....
Esperanças, mortas.
Um diferente medroso, este sim,
acaba transformando-se num chato.
Chato é um diferente que não vingou.
Os diferentes muito inteligentes
percebem porque os outros não os entendem.
Diferente que se preza
entende o porquê de quem o agride.
O diferente paga sempre o preço de estar
- mesmo sem querer - alterando algo,
ameaçando rebanhos, carneiros e pastores.
O diferente suporta e digere a ira
do irremediavelmente igual,
a inveja do comum, o ódio do mediano.
O verdadeiro diferente sabe que nunca tem razão,
mas que está sempre certo.
O diferente começa a sofrer cedo, já no primário,
onde os demais, de mãos dadas,
e até mesmo alguns adultos, por omissão,
se unem para transformar o que é potencial
em caricatura.
O que é percepção aguçada em:
"puxa, fulano, COMO VOCÊ É COMPLICADO".
O que é o embrião de um estilo próprio em:
"você não está vendo como todo mundo faz?"
O diferente carrega desde cedo
apelidos que acaba incorporando.
Só os diferentes mais fortes do que o mundo
se transformaram nos seus grandes modificadores.
Diferente é o que vê mais longe do que o consenso.
O que sente antes mesmo
dos demais começarem a perceber.
Diferente é o que se emociona
enquanto todos em torno, agridem e gargalham.
É o que engorda mais um pouco;
chora onde outros xingam;
estuda onde outros burram.
Quer onde outros cansam.
Espera de onde já não vem.
Sonha entre realistas.
Concretiza entre sonhadores.
Fala de leite em reunião de bêbados.
Cria onde o hábito rotiniza.
Sofre onde os outros ganham.
Diferente é o que fica doendo onde a alegria impera.
Fala de amor no meio da guerra.
Deixa o adversário fazer o gol,
porque gosta mais de jogar do que de ganhar.
Os diferentes aí estão:
enfermos, paralíticos, machucados,
inteligentes em excesso,
bons demais para aquele cargo,
excepcionais, narigudos, barrigudos, joelhudos,
de pé grande, de roupas erradas, cheios de espinhas,
de mumunha ou de malícia.

Alma dos diferentes é feita de uma luz além.
Sua estrela tem moradas deslumbrantes que eles guardam
para os pouco capazes de os sentir e entender.
E... nessas moradas estão tesouros da ternura humana.
De que só os diferentes são CAPAZES.


(Artur de Távola)


...pois, é tão bom ser diferente...