quarta-feira, 8 de outubro de 2008

"O blogueiro anónimo" - com adenda

Opinião do Juiz Desembargador Rui Rangel no jornal Correio da Manhã (penso que) no dia de hoje:

“Esta gente rasteira que escreve sem se identificar só tem arte para discutir pessoas e não ideias e princípios”
Neste mundo global, ninguém questiona as virtualidades e as vantagens dos blogues, enquanto ferramenta multifuncional que promove uma nova forma de comunicação, uma forma de expressão completamente livre. De facto, quando o blogue é usado correctamente constitui um importante instrumento de debate público, de debate pertinente e sério, prestando um bom serviço ao exercício da Democracia.
Mas o blogue que permite que a grande maioria dos bloguistas se refugie no anonimato não é sério, nem presta um relevante serviço à sociedade. Bem sei que o anonimato foi uma conquista para fugir à opinião massiva, para poder discordar sem ser identificado, evitando ser colocado à margem do grupo. Mas também sei que esta característica específica dos blogues, assente no anonimato, tem servido para proteger gente cobarde e mesquinha, que se refugia nesta forma de comunicar para vinganças pessoais, para ofender a honra e o bom-nome das pessoas que dão a cara e que não têm medo de pôr a assinatura em tudo o que fazem. Esta gente rasteira que se esconde por detrás do biombo do anonimato só tem arte e engenho pa-ra discutir pessoas e não ideias e princípios. A espiral de silêncio de que nos fala a socióloga Noelle Neumann é a fronteira que distingue a qualidade e a honestidade intelectual entre os blogues.
O blogueiro anónimo é, infelizmente, também juiz. Também este, que é o rosto visível da Justiça, de uma Justiça que se quer de cara destapada e transparente, se refugia nesta forma desprezível de comunicar, torpedeando o que lê, caluniando, sem qualquer respeito e tolerância. Talvez o Conselho Superior da Magistratura devesse estar atento a alguns blogues que acompanham as questões da Justiça e que em nada dignificam o Poder Judicial.
As ofensas anónimas estão nos antípodas da crítica construtiva, proporcional e adequada. É bom que o juiz anónimo saiba que o blogue não foge às regras do ordenamento jurídico português nem aos limites do exercício de liberdade, de manifestação e de pensamento. E é bom também que saiba que o titular do blogue é responsável, civil e criminalmente, pelos comentários injuriosos. Para cada direito criado há limites.
Quem se esconde na caverna do silêncio e da penumbra, para ter o momento de glória quando escreve sem se identificar, demonstra fraca personalidade e não tem o mínimo de respeito e de amor pelos direitos de personalidade.

Adenda:
Escrevi um comentário no site do Correio da Manhã acerca deste texto, mas não foi publicado - estranho...

6 Comments:

At 08 outubro, 2008 18:28, Blogger QC said...

http://pauloquerido.net/blogosfera/os-blogues-estao-muito-a-frente-da-imprensa/
Fica aqui este link. Tem um excerto de uma voz dissonante, a do MEC.

Pois, de facto, a blogostera tem muito de Antígona. Isso incomoda.

 
At 08 outubro, 2008 19:30, Blogger Zig said...

de.puta.madre:

Obrigado pelo comentário.

Já tinha ouvido esse excerto sonoro (finalmente começam por cá também descobrir o boomp3...) no blog Praça da República.

Sinceramente, não sei quem é que está em qual lado da barricada, nem sei que lados são esses. Aqui, sigo o meu estilo e pouco mais...:)

Não consegui abrir o teu blog, é muito pesado para a minha velha máquina.

 
At 08 outubro, 2008 21:13, Anonymous Anónimo said...

Caro amigo, também eu desisti de permitir anónimos no "sombra". É que um "nick" , mesmo sem sabermos quem é a pessoa, permite-nos idealizar sobre o indivíduo que escreve como também seguir a sua postura em comentários posteriores, é como se esse "nick" (a alcunha) fosse AQUELA pessoa.
Mas também não duvido que anda por aí muita malta mais preocupada do que seria normal com os "blogs". Ora porra, se há assassínios à facada por que raio não se preocupam em proibir o fabrico de facas de cozinha? Parece-me, e disso não tenho a mínima dúvida, é que se anda a arranjar (falsos) pretextos para controlar a "blogosfera"... socratices?...
Quanto aos "escribas" que mencionas.... remeto-os para o que acima escrevi.
Ainda vou a tempo de te dizer que o "correio da manhã" já por mais de uma vez me fez "fatos da mesma fazenda", isto é : mandou o meu comentário para as malvas (e eu estava bem identificado).
Um abraço e desculpa lá o espaço roubado, eh eh.

 
At 08 outubro, 2008 23:41, Blogger Zig said...

celtiberix:

Seja bem-vindo de volta à "minha casa"! Já faz bastante tempo que aqui não comentavas!

Digo-te a mesma coisa que já escrevi no blog do Espinho. Um blog é apenas um site que alguém apenas visita se quiser. Ninguém é obrigado a ver os blogues. Se esse site for bem escrito, ou interessante, esse alguém volta, senão, fica de fora. Logo, um blog tem apenas a importância que tem para esses "alguém's", não sei onde é que está o perigo.

Claro, se houver ofensas pessoais nesse blog o caso muda de figura. Mas são a grande minoria que o fazem, meter a blogosfera toda no mesmo saco é um grande erro. E digo mais. A maior parte dos blogues (de escrita, tirando os “porcalhotos”, que não visito, até detesto!) de maior “tiragem” é de gente séria que sabe do que fala!

Aparece sempre!

 
At 09 outubro, 2008 15:49, Blogger H said...

Mais uma vez, é lúcida a abordagem do Desembargador Rui Rangel. E falo com a liberdade de ter sido dos primeiros a defender a responsabilização civil e penal pelos comentários de terceiros num blogue. Para defesa da "blogosfera" que apenas pode querer ser séria, se for responsável. E ainda me lembro de tudo o que me chamaram por defender isto, alguns dos "papás" da blogosfera...

 
At 09 outubro, 2008 16:38, Blogger Zig said...

h:

Não será antes uma defesa de cada um sobre o seu estilo bloguista? Ou então, a forma que cada um de nós aceita, ou não, as críticas que lhe são feitas na sua própria página?

Em primeiro lugar, tem que haver respeito entre nós, tudo que vem depois só se pode contabilizar como "ganho". Mas sendo a blogosfera uma "classe" tudo menos unida, cada um puxa por si...

 

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